terça-feira, dezembro 20, 2005

Solteiros contra casados

Já não se usam, mais eram muito habituais no Portugal salazarento. Um grupo de barrigudos, normalmente casados - nunca entendi porque é que os casados ganham barriga e engordam - enfrentava, com o pensamento numa boa feijoada ou num estupendo bacalhau com batatas, um grupo de solteiros, rapazes fugosos, cheios de força, numa futebolada. Por norma o resultado final era uma goleada a favor dos segundos. Com duas partes distintas. Na primeira, o grupo de casados atirava-se com unhas e dentes ao adversário, sujava a camisola, dava tudo o que tinha e não tinha nas pernas e nos pulmões e não tinha qualquer pejo em dar umas valentes sarrafadas aos mais novos que, por respeito, se encolhiam e tentavam suster aquela ofensiva dos leões. Vinha o intervalo. Os casados, exaustos, atiravam-se para o chão e transformavam o campo num imenso cemitério de barrigas. Os mais novos, ainda surpresos com a agressividade dos mais velhos, trocavam umas bolas, bebiam água com moderação e preparavam-se para a decisiva segunda parte. E aí, normalmente, acontecia um massacre. Os casados atiravam-se para o chão depois de qualquer corrida, não tinham força nem para chutar a bola e só pensavam numas cervejolas salvadoras e na feijoada ou no bacalhau com todos. Claro que o resultado final era uma goleada para a rapaziada solteira. E os casados tinham saídas de sendeiros.
Soares entrou no debate com Cavaco como um casado. Correu como um louco, deu sarrafadas à margem da lei, fez comentários da geral e tentou que o seu adversário se levantasse da cadeira e lhe desse um valente bofetão. Se isso acontecesse tinha não só ganho o debate como as eleições. Mas Cavaco aguentou, fez caretas de incómodo, repetiu o discurso do costume e esperou que chegasse o intervalo. Depois, bem, depois foi o massacre. Soares, cansado da correria da primeira parte, estatelava-se sempre que falava e não falava, ainda tentou entrar no insulto mas já não aguentava nem com os calções. E acabou interrompido por um dos árbitros a desejar, de forma atabalhoada, um Bom Natal. Sem grande técnica, com uma táctica velha, sem qualquer ideia luminosa, Cavaco deu um passo de gigante para se sentar em Belém. A verdade é que Soares, desesperado, não tinha outra coisa a fazer. Perdido por dez, perdido por mil. Acabou perdido por mil. Até à próxima. Em 2011 ou 2016.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não sei quem você é, mas não o queria como conselheiro. Faz parte daqueles que diz ao rei que está bem vestido quando está nú. Dizer que o debate foi um massacre de Cavaco sobre Soares é o mesmo que dizer que enquanto o debate decorria estava a banhos, ou na banheira.
Eu não digo que o Soares ganhou ou que perdeu, mas basta dar uma vista de olhos pela imprensa para perceber que não foi a realidade que você viu. Mas deve fazer parte daqueles que andou o ano a dizer que o Sporting jogava o melhor futebol, tinha a melhor equipa e o Peseiro era o maior. Está perdoado. Mas devia aprender a ser menos ligeiro. Talvez a idade o emende.
jcfleitao@gmail.com

7:57 da tarde  

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