quarta-feira, dezembro 14, 2005

Viva a chaputa

Eu só como chaputa lusitana. Depois de ouvir Jerónimo defender com emoção a pesca artesanal feita por lusos, só por lusos, não há desculpa para quem, amigo ou membro das grandes famílias do capital, andar por aí a papar linguados, robalos, garoupas, chaputas ou simples solhas que não tenham mãozinha nacional. E dormir em lençóis chineses? Um crime que deveria, em última análise, implicar impotência temporal ou permanente. Jerónimo estava imparável ontem à noite. Mas fiquei ofendido. Como jornalista esperava que os dois pugnassem pelo regresso aos tipógrafos, aos linotipistas, ao off-set, enfim, que repudiassem em absoluto os computadores, os sistemas editoriais, os modelos gráficos, isto é, tudo o que implicou a redução ou extinção de profissões na produção de jornais, simplicou a sua feitura e tornou-os mais baratos. Cavaco, um homem verdadeiramente do centro-esquerda, defende privatizações mitigadas, feitas à medida das capacidades financeiras dos grupos nacionais. E acha decisivo que os centros de decisão sejam tugas. Como a AutoEuropa, por exemplo. É evidente que Cavaco ganhou o debate com Jerónimo. Mas esta vitória do centro-esquerda dá uma imensa vontade de chorar. Até porque, com quinze dias de adaptação ao mundo moderno, Salazar não só estaria de acordo com Jerónimo, Louçã, Cavaco, Alegre e Soares como ganharia com uma enorme maioria qualquer eleição, legislativa ou presidencial. Ouvir Cavaco e Jerónimo é estar no Canal Memória da RTP, fechar os olhos e assistir aos discursos patrióticos de Salazar sobre o condicionalismo industrial, a indústria lusitana e o inevitável 'nacional é bom'.